Ibitipoca-MG: As belezas do caminho rumo à Janela do Céu

Acompanhe toda a beleza da trilha que leva até a maior atração de Ibitipoca


"Ir a Ibitipoca e não conhecer a Janela do Céu é como ir a Roma e não visitar o Papa". Fazendo essa analogia ao velho ditado é possível entender a popularidade do local que é o grande cartão postal da região e a maior atração do parque. A maioria dos visitantes encaram a longa caminhada para tirar uma foto clássica sentado no espelho d´água que contrasta com o céu e que, se você já ouviu falar em Ibitipoca, provavelmente já viu essa imagem. Mas para chegar lá não é assim tão fácil, são 6,5 km só de ida, encarando muitas subidas.

No início da trilha estão as placas informando as distâncias


Eu fui a única pessoa que acampava no parque naquela noite. Sabendo da fama dessa trilha e da tendência em lotar de turistas, acordei cedo e comecei a andar antes do parque abrir (7h00). A trilha começa numa entrada próxima ao portão do parque. Somando a distância até a Janela do Céu e atrações secundárias, seria um total de 16 km (ida/volta) de caminhada.

São 6.550 metros só para chegar na Janela do Céu com muita subida


A temperatura estava baixa de manhã, mas como no dia anterior tinha aberto um sol, resolvi partir para a trilha apenas de camisa e bermuda. Ao subir a serra a tendência do corpo é esquentar com a energia utilizada. Eu também levei pouca comida. Essas minhas escolhas me levariam ao arrependimento mais tarde.

Cada vez que ficava mais alto, mais o frio tomava conta do ambiente


CRUZEIRO

Depois de caminhar por aproximadamente 2,5 km de subida na serra, se chega na primeira atração do percurso que é uma cruz de madeira fixada no alto da elevação, chamada de Cruzeiro. É um ponto de parada, inclusive com bancos para apreciar a paisagem enquanto descansa. Ali perto também está a entrada da Gruta da Cruz, mas esse ainda não era o momento de parar e eu continuei o caminho para chegar logo na Janela do Céu.

O Cruzeiro é um marco religioso e um ponto de descanso para os andarilhos...


... porém fazia muito frio e parar de se mover não seria uma boa ideia


Cada vez ficava mais frio até chegar ao ponto mais alto da trilha: a Lombada. Este local possui 1.784 metros de altitude e possui um banco de pedra natural para apreciar a vista 360 graus. O frio ficava cada vez mais intenso e eu trajava apenas uma camisa sem manga e bermuda, até que olhei para meu chapéu e percebi que haviam cristais de gelo. Foi então que tive que improvisar um meio de me proteger do frio, logo saquei meu poncho e continuei a trilha embrulhado.

Cada vez mais a cerração e o frio tomavam conta da trilha


Eu estava congelando e não tinha percebido, só quando eu vi o chapéu com gelo


GRUTA DOS FUGITIVOS

Com o tempo fechado, entendi que não tinha sido uma boa ideia sair tão cedo naquele dia pois a vista da Janela do céu ficaria prejudicada. Resolvi passar o tempo explorando as grutas próximas à trilha. A primeira foi a Gruta dos Fugitivos que possui esse nome pois existe uma saída no final da caverna, apesar de não ser possível ver do início.

Apesar de não ser longa, essa gruta faz curvas que dificultam ver seu final


No final da gruta existe uma placa indicando a direção da Gruta dos 3 Arcos


GRUTA DOS 3 ARCOS

Para chegar nessa gruta, é necessário primeiro atravessar a Gruta dos Fugitivos. A Gruta dos 3 Arcos, na minha opinião, foi uma das mais bonitas e se parece com um grande auditório com três imensos portais.

São três portais cercados do verde das matas


O pátio central é inclinado, como um auditório


JANELA DO CÉU

Depois de ganhar tempo explorando as cavernas, mesmo antes das nuvens dispersarem, resolvi chegar logo na atração mais famosa do parque. A essa hora eu já não era a única pessoa lá, mas o frio fazia com que as pessoas olhassem de longe e fossem embora. Existe uma escada de madeira que leva até a água, mas para chegar na ponta seria necessário entrar na água! Sentei na margem e comi uma barra de cereal enquanto tomava coragem para encarar a água congelante.

Uma foto de outro ângulo: veja o que tem por trás da clássica imagem da beira da Janela


Como eu não havia planejado entrar em qualquer cachoeira naquele frio, não estava nem usando sunga. Fiquei só de bermuda e comecei a entrar ao poucos, sentindo minhas pernas dentro de uma água de geladeira. Quando a água bateu na cintura eu percebi que se não achasse um caminho teria que mergulhar e nadar, então testei ir pelas pedras na outra margem. Consegui chegar na borda da queda!

Mesmo com o clima frio a vista compensa


Um grupo de pessoas que estava na margem ficou me observando para saber como chegariam lá, foi então que um deles descobriu um "atalho", passando por baixo da cerca da escada, assim não teriam que entrar pela água. Aproveitei essa descoberta e fui vestir a camisa para dar uma amenizada no frio enquanto eu fazia as fotos.

São 20 metros de queda até um poço de águas negras


Quadrinho marcado: a clássica foto sentado na "janela"


Depois que saí, o número de visitantes começou a aumentar no local


MIRANTE DA JANELA

Seguindo pelo lado da trilha da Janela do Céu, existe um mirante de madeira. Calma, esse não é o melhor mirante. Para chegar lá, basta passar pelo lado da cerca desse mirante e descer as pedras. Existe uma pedra inclinada em que é possível ver a cachoeira da Janela do Céu de frente, além de uma vista vertiginosa do poço ao fundo.

Outro lugar de vista sensacional fica numa pedra ao lado da Janela do Céu


A pedra é inclinada para baixo, portanto é bom tomar cuidado


Procurei não chegar muito na ponta pois a pedra é uma rampa para baixo, qualquer descuido e a queda é certa. Assim como neste ponto, fica o alerta para se ter cuidado, principalmente na beira da Janela do Céu onde a pedra é escorregadia. Existe relatos de pessoas que caíram da beira da Janela, inclusive isso aconteceu cerca de dois meses antes da minha passagem pelo parque. Nessa ocasião o resgate demorou quase 4 horas para chegar devido a dificuldade de locomoção. A boa notícia é que a menina que caiu havia sobrevivido.

Vista da Janela do Céu a partir do mirante de pedra


Poço formado pelas águas da queda


CACHOEIRINHA

Não, a Janela do Céu não é o final da linha dessa trilha. Ela continua até chegar na Cachoeirinha, outra queda d´água que forma uma praia de areia branca onde suas águas desaguam. A trilha passa primeiro pelo alto e depois desce até esse pequeno oásis.

Na ponta de uma pedra no alto da Cachoeirinha


São 35 metros de queda d´água


Uma pequena praia permanece escondida pela vegetação


Com o surgimento do sol, um arco-íris chega para embelezar ainda mais a cachoeira


A areia é branca como nas praias banhadas pelo mar


A PAISAGEM DURANTE O RETORNO

O retorno pela trilha não foi monótono. Apesar da fome que eu me encontrava pois a comida havia acabado, a paisagem era inteiramente nova pois as nuvens se dispersaram e agora era possível ver a paisagem distante. Ainda tinha muita coisa a ser explorada!

Com o céu claro a paisagem mudou nos arredores


Muitos cactos brotam nos campos adjacentes à trilha


Percebi uma trilha secundária discreta, quase imperceptível, que levava a um mirante dos vales


Momentos de paz e meditação sem ninguém por perto


GRUTA DOS MOREIRAS

No retorno aproveitei para visitar outras grutas que eu havia ignorado no caminho de ida. Uma delas é a Gruta dos Moreiras que fica a 310 metros distante da trilha de volta. Sua entrada fica próxima à entrada das grutas dos Fugitivos e 3 Arcos.

O ambiente assustador das grutas parece não ser muito popular...


... e os turistas não passam muito tempo por ali, as grutas permanecem vazias


GRUTA DA CRUZ

Outra gruta que faltou ser explorada é aquela que se encontra embaixo do Cruzeiro, basta andar apenas 90 metros. Esta se destaca das outras por possuir diversos níveis, existindo ainda escadas de madeira colocadas pela administração do parque para atravessá-la. Outra coisa curiosa são os buracos no teto (na verdade, no chão do Cruzeiro) que funcionam como clarabóias.

Abaixo do morro onde se encontra o Cruzeiro está a Gruta da Cruz


O interior da gruta parece uma casa com cômodos em diferentes andares


Existe até um teto solar para clarear e ventilar o interior da caverna


Ao subir as escadas é possível sair em um nível acima do solo, já próximo ao Cruzeiro


GRUTA DOS COELHOS

Terminei a longa jornada que foi explorar a trilha que é conhecida como Roteiro Janela do Céu, mas no meu roteiro particular acrescentei essa gruta que fica ao lado do Centro de Visitantes (passagem para que retorna ao camping). Já havia anoitecido e eu usei a lanterna para entrar nela que possui o nome condizente, pois é necessário andar como coelho para passar entre buracos baixos e estreitos.

Explorar uma gruta a noite é uma tarefa perigosa, pois se a lanterna pára é bem difícil achar a saída


Algumas passagens são pequenas sendo necessário passar abaixado


MEU ROTEIRO


Roteiro completo: IBITIPOCA



Comentários

  1. lembrei da minha viagem para lá na infância, com a minha avó aventureira. em uma das grutas, quando atingimos uma pedra alta, o guia pediu que todo mundo desligasse as lanternas. foi assustador, mas inesquecível. obrigada pelo seu relato

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.